Manaus

Fico horrorizada, diz florista sobre aumento de movimento no Cemitério do Tarumã em Manaus

Há dez anos Lucilene Torres, de 47 anos, encontrou no ofício de florista uma alternativa de emprego e um recomeço de vida. Com uma banca em frente ao Cemitério Nossa Senhora Aparecida, conhecido como Cemitério do Tarumã, em Manaus, ela conta que na venda de flores achou um nicho e um espaço no qual compartilha histórias de tristeza, mas também de reflexão com os familiares que se despedem de seus seres queridos.

No entanto, durante os últimos dias, os momentos de extremo desespero e tristeza tem sido recorrentes. A alta no número de mortes afetou também o emocional da trabalhadora. Com o caos na saúde vivido na capital, com o aumento de internações e óbitos por COVID-19, ela disse viver o momento mais crítico.

“Cada dia cresce mais o número de sepultamentos, de pessoas para serem enterradas. Eu fico horrorizada com isso, porque durante esse tempo que trabalho aqui era normal 20 sepultamentos, 17… nunca chegou a 50. E agora tem dia que chega a 110, 120. É muito difícil”, relatou.

Somente na sexta-feira (15), Manaus registrou 213 enterros, segundo a prefeitura. O número bateu recorde de sepultamentos diários desde o começo da pandemia. Apesar o número de mortes em alta, o movimento estava tranquilo na manhã deste domingo (17) no Cemitério do Tarumã, local que recebeu câmaras frigoríficas e teve horário de funcionamento ampliado par dar conta do número de enterros.

Com a pandemia do coronavírus e um novo surto da doença em Manaus, a vendedora explicou que está com medo. Ela preferia ficar em casa, se protegendo. Mas pela falta de uma renda complementar, precisa continuar com as atividades. No entanto, vem enfrentando algumas dificuldades.

“Não era pra gente estar aqui, né? A gente tinha que estar em casa, se prevenindo. Mas, como a gente precisa, e não tem de onde tirar, a gente tem que vir. Isso aqui é o nosso ganha pão. Só está entrando três pessoas para sepultamento e as visitas estão suspensas, então as nossas vendas caíram muito. Mas nós temos fé que tudo isso vai passar”.

Com tanta coisa acontecendo, o medo dá lugar para a empatia. A vendedora contou que nesse sábado (16), uma cena chamou sua atenção e ela resolveu ajudar.

“Caiu uma chuva muito forte e mesmo assim uma família continuou ali na grade, acompanhando de longe o sepultamento. Isso me tocou. Eu e minha irmã fomos lá e demos uma sombrinha para eles”.

Lucilene trabalha no local há 10 anos. Ela disse que veio parar na porta do cemitério após a falta de oportunidades no mercado de trabalho, por conta da idade. “Como eu tenho 47 anos, nem todas as empresas dão oportunidade pra quem tem essa idade. Como eu não tinha mais nada pra fazer e tive essa oportunidade, eu estou aqui até hoje”.

Fonte: Matheus Castro, G1 AM – Nenhuma violação de direitos autorais pretendida

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