A “direita” do Amazonas com pedigree da “esquerda” e alma vermelha
Para que você possa entender melhor, vamos começar fazendo um síntese.
Os termos “esquerda” e “direita” apareceram durante a Revolução Francesa, de 1789, e o subsequente Império de Napoleão Bonaparte, quando os membros da Assembleia Nacional se dividiam no parlamento entre os partidários do rei, sentados à direita do presidente e os simpatizantes da revolução à sua esquerda.
A ideologia da direita defende valores conservadores e tradicionais, liberdade do mercado e poder limitado de intervenção do Estado. A esquerda defende os direitos dos trabalhadores e das chamadas minorias, a igualdade por meio de políticas públicas e a intervenção do Estado.
Direita no Brasil
Já com as eleições de Getúlio Vargas (1930 a 1945) e o Estado Novo, o presidente mesclou atitudes políticas esquerdistas e direitistas. O acontecimento que marcou a direita brasileira e ajudou a construir sua fundamentação atual foi a Ditadura Militar (1964 a 1985) e a Redemocratização.
Observa-se que movimento que muitos chamam de “direita” no Brasil, começou a ganhar força novamente com os protestos de 2013 e o movimento “vem pra rua” que declarava defender a causa apartidária do combate à corrupção e a prisão de corruptos, independentemente do partido, e apoiava a operação Lava Jato em suas ações. Antes do Impeachment da presidente Dilma, as ações do grupo tiveram como alvo majoritário o Partido dos Trabalhadores e o governo Dilma Rousseff.
Naquele 6 de junho de 2013, os manifestantes lutavam contra o aumento das tarifas do transporte público, que haviam subido de R$ 3 para R$ 3,20 no início do mês. Após isso, os movimentos populares tidos como de “direita” voltaram a ocorrer em todas as regiões do Brasil, no dia 13 de março de 2016. Foi o maior ato político na história do Brasil, superando as Diretas já, que ficou conhecido como o “Fora Dilma”. Após o impeachment de Dilma Rousseff, as manifestações passaram a se focar apenas na defesa da Lava Jato.
Nesse meio tempo, começa um processo tímido de ascensão, o então deputado federal pelo Rio de Janeiro, Jair Messias Bolsonaro que defendia bandeiras como o conservadorismo, combate ao abordo, ao que eles chamam de “ideologia de gênero” entre outras pautas e começou chamar a atenção dos brasileiros que se identificavam como essa nova direita que podemos chamar de “direita conservadora”. Sem se preocupar muito com as críticas da imprensa e dos “politicamente corretos”, Bolsonaro começou a ser manchete na mídia nacional por seu temperamento explosivo e sem papas na língua. Ganhou seguidores que começaram a chamá-lo de “Mito” alusão as suas falas controversas e a cada ataque de Bolsonaro ou discurso, esses diziam que o “capitão” teria “mitado”. Aproveitando esse gancho, o até então apagado deputado, começou a percorrer o Brasil surfando na onda da nova direita e com seu slogan “Deus, pátria e família”. Aquele que chegou como quem não quer nada começou a assustar os grupos políticos e e esquerda que até então, desde de 2002 com a eleição de Lula passou a exercer o seu protagonismo na cena política brasileira, conseguindo a façanha de emplacar dois mandatos de Lula e dois de Dilma Rousseff. Logo Bolsonaro já aparecia entre os presidenciáveis com chances reais de chegar ao poder. Nesse meio tempo tivemos a Operação Lava Jato que foi um conjunto de investigações, algumas controversas, realizadas pela Polícia Federal (PF), que cumpriu mais de mil mandados de busca e apreensão, de prisão temporária, de prisão preventiva e de condução coercitiva, visando apurar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou bilhões de reais em propina, denominado Petrolão. A operação teve início em 17 de março de 2014 e contou com 80 fases operacionais autorizadas, entre outros, pelo então juiz Sergio Moro, durante as quais prenderam-se e condenaram-se mais de cem pessoas.
A consagração do movimento de direita e o Bolsonarismo veio com a eleição de Jair Messias Bolsonaro em 2018. A avalanche política chamada “Bolsonaro”, mudou o cenário político no país e quebrou ali por hora, o que podemos chamar de “sistema”.
Bolsonaro se elegeu por um partido que até então era nanico, o PSL, fundado em 30 de outubro de 1994 e obteve registro definitivo em 2 de junho de 1998. Sua ideologia original era o social-liberalismo, defendendo uma menor participação do Estado na economia, mas com o direcionamento total dos recursos arrecadados pelo Estado para a saúde, a educação e a segurança. Com Bolsonaro, foi catapultado para a segunda maior bancada neste ano, com 52 nomes na Câmara dos Deputados, atrás apenas do PT. Sem representação no Senado até então, elegeu quatro representantes na casa.
O avanço repentino colocou o partido no primeiro escalão dos partidos, que defende uma bandeira de liberalismo na economia e que após Bolsonaro passou a defender o conservadorismo nos costumes.
Pois bem, fiz toda essa síntese para que possamos entender melhor o título desse artigo. A “direita” do Amazonas com pedigree da “esquerda” e alma vermelha.
Nessa onda bolsonarista, se elegia em 2018 o então capitão da PM/AM, Alberto Barros Cavalcante Neto, o conhecido Capitão Alberto Neto, com 107.168 votos para ocupar uma vaga como deputado federal na bancada amazonense no congresso nacional. Outro nome que surgiu do nada na cena política amazonense, foi o de Alfredo Menezes Júnior, mais conhecido coronel Menezes. Nomeado pelo presidente para ocupar o cargo de superintendente da zona franca de Manaus em fevereiro de 2019. Conhecido como o “cara de confiança” de Bolsonaro no Amazonas, Menezes passou a chamar a atenção não só da mídia local e passou a ter um protagonismo a frente do movimento direita em Manaus e entre os bolsonaristas.
Nas eleições de 2020, Menezes surge como candidato do presidente Bolsonaro lançando sua candidatura pelo PATRIOTAS e mesmo sem nunca ter concorrido a nenhum cargo político, terminou a eleição em quinto lugar com 110 mil votos, a frente de Alberto Neto que também concorreu e mesmo já sendo deputado federal, conseguiu apenas 76 mil votos ou 7,95% dos votos válidos.
Ali se instalava uma disputa dentro do movimento de direita e bolsonarista. O até então desconhecido Menezes, começou a incomodar com seus 110 mil votos para prefeito, uma performance de dar inveja a qualquer iniciante na cena política local. O queridinho de Bolsonaro ameaçava a posição de Alberto Neto, que começou a se articular para as eleições de 2022, já vendo Menezes como um potencial ameaça política para seus planos de reeleição no próximo pleito. Com a incógnita e reeleição de uma possível derrota de Bolsonaro, o que viria a se concretizar em 2022, dado ao desgaste do presidente com a imprensa e os problemas enfrentados pelo seu governo com a pandemia, aliança com o centrão, entre outros, Alberto passou a ver Menezes como ameaça real a sua reeleição como deputado federal. Daí então Alberto utilizou uma tática já bem conhecida no meio político do “se você não pode com ele, junte-se a ele”. Todos sabem que Menezes nunca foi próximo de fato a Alberto Neto. Temendo a ameaça, Alberto tratou de fortalecer a ideia que já estava posta de Menezes disputar uma vaga ao senado, afastando assim qualquer possibilidade de o coronel disputar uma cadeira de deputado federal o que poderia ser desastroso para os planos de Alberto que até então não tinha ideia da real força e capacidade de votos de Menezes. Então ficou decidido que o trio parada dura da direita no Amazonas ficaria assim: Menezes para o senado, Alberto Neto deputado federal e Débora Menezes estadual. Quando se abriram as urnas, viu-se que Menezes consolidou seu nome como realmente “o cara” de Bolsonaro no Amazonas, conseguindo a façanha de obter mais de 700 mil votos, disputando a eleição com nomes como Omar Aziz, muito forte no interior e o ex-prefeito Arthur Virgílio. Menezes bateu na trave o por pouco mais de 20 mil votos não tirou o mandato do senador Omar.
MENEZES NO PL
Com tudo isso, duas figuras passaram a ver o coronel como uma ameaça pessoal, Alberto Neto e Alfredo Nascimento, que por muitos anos presidiu o partido nacionalmente.
É aqui que chegamos nessa direita tingida de vermelho e com o DNA de esquerda.
Alberto Neto se alia a Alfredo Nascimento para tentar enfraquecer Menezes que seria dentro do PL ameaça aos dois. Um processo esdrúxulo de expulsão de Menezes sem motivo justo se iniciou debaixo do nariz de Alberto Neto que até então se dizia amigo de Menezes e não moveu uma palha para defender dentro da sigla seu “amigo”. O desespero de Alfredo foi tão grande com a ideia de Menezes tomar a única coisa que lhe faz ainda dar os últimos suspiros na cena política local (o controle do partido). Alfredo passou a se articular bem ao seu estilo para tentar levar o PL para o colo de David Almeida. Alberto vendo que esta manobra se tornava perigosa e ganhava a rejeição do movimento de direita em Manaus, para se salvar e ficar bem na foto, ensaiou uma chapa puro sangue anunciada por ele mesmo em janeiro e “engolida” por Menezes, chapa essa que foi endossado pelo ex-presidente Bolsonaro e também afirmada por Alberto Neto.
A partir daí é que o caldo começa a entornar. Desesperado Alfredo tratou de apelar ao dono do PL e antigo aliado, Valdemar da Costa Neto, que passou por cima de Bolsonaro e vetou a chapa puro sangue sob forte articulação de Alfredo que nega veementemente ter se articulado nesse sentido, mas que é sabido de todos nos bastidores, trabalhou pesado para isso.
Alfredo Nascimento que já foi ministro do PT, aliado de primeira hora de Lula e Dilma, que já empurrou a própria Dilma no precipício, cuspindo no prato que comeu por anos e votando pela sua cassação no salve-se quem puder imposto pelo ex-presidente da câmara, o então Eduardo Cunha. Mostrou ali seu caráter dúbio. A alma de Alfredo é vermelha, seu DNA é de esquerda, sua história política escancara isso para quem quiser ver e suas atitudes não condizem nem de longe com a ideologia pregada pela direita conservadora e o Bolsonarismo. Alberto Neto se curvou a tudo isso, quando para salvar a própria pele lançou Menezes no buraco como fizeram os irmãos de José na história bíblica. Aonde estão os lemas, Deus, Pátria e família Alberto Neto?
É assim que se comporta um cristão conservador. Lançando os amigos a cova dos leões, se aliando as práticas da velha escola política?
Para finalizar, o último evento da direita conservadora que trouxe o ex-presidente Bolsonaro a Manaus, foi a síntese da divisão e fragmentação da direita no Amazonas. Um evento morno com baixa adesão do público em que Alfredo foi vaiado e Alberto Neto não teve a sensibilidade de evitar o constrangimento ao qual expôs o ex-presidente, colocando em seu palanque por exemplo: o ex-prefeito Arthur Virgílio a quem Bolsonaro chamou de “Bosta” durante a pandemia, fazendo Bolsonaro ficar com cara de paisagem no mesmo evento.
Opinião
Alfredo Nascimento, você manchou a direita no Amazonas de vermelho. Expôs o seu pedigree que é de esquerda e isso tudo por tabela, endossado por Alberto Neto, que mesmo assistindo tudo, não se posicionou e o a conclusão que tiramos é de quem cala, consente.
Parece que essa direita que aí está já não é tão conservadora, nem tão pouco cristã e jogou os valores que defende na lata do lixo.
Finalizo com uma frase clichê, mas que traduz bem tudo isso que eu narrei… “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!”.
FONTE: Blog do Moisés Dutra